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A queda no consumo de álcool: mudança de comportamento

Por Alessandra Postali 

O álcool continua presente em muitas celebrações, mas já não reina sozinho. Drinks sem álcool, festas diurnas e hábitos mais atentos ao bem-estar mostram que o cenário está se ampliando — e não apenas por aqui. Nos últimos anos, observamos uma tendência global de redução no consumo de bebidas alcoólicas, impulsionada por fatores como saúde, bem-estar e mudanças geracionais. Ao que tudo indica, trata-se de uma transformação cultural consistente, especialmente entre as gerações mais jovens.

Uma pesquisa da Gallup revelou que, nos Estados Unidos, a proporção de pessoas com menos de 35 anos que consomem ou já consumiram bebidas alcoólicas caiu de 72% no início dos anos 2000 para 62% em 2023. O levantamento também indica uma menor frequência no consumo e uma tendência à moderação entre os jovens adultos.

Esse comportamento é igualmente perceptível no Brasil. Um estudo realizado pela consultoria MindMiners aponta que 55% da geração Z brasileira — nascidos entre 1995 e 2010 — afirmam não consumir bebidas alcoólicas como cerveja e vinho. A principal motivação está relacionada ao cuidado com a saúde e à preferência por atividades que favoreçam o bem-estar físico e mental.

Além disso, dados recentes do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa) reforçam esse cenário: 46% dos jovens entre 18 e 24 anos declararam não consumir álcool e outros 20% relataram fazê-lo no máximo uma vez por mês.

Esse novo comportamento faz parte de uma transformação mais ampla nos hábitos de vida. Há um interesse crescente por práticas como yoga, meditação, alimentação consciente e atividades físicas em grupo. O aumento dos grupos de corrida, treinos ao ar livre e festas diurnas sinaliza a valorização de experiências sociais mais leves, desconectadas do consumo de álcool.


A resposta da indústria de bebidas 

Com essa mudança de comportamento, o setor de bebidas tem se reinventado para acompanhar um consumidor mais atento às suas escolhas. De acordo com a Euromonitor International, o mercado brasileiro de cervejas sem álcool alcançou 480 milhões de litros vendidos em 2024 — um crescimento de mais de 20% em relação ao ano anterior. Embora ainda representem apenas 3% do total de cervejas consumidas, os números indicam uma tendência consistente.

No cenário internacional, as bebidas com baixo ou nenhum teor alcoólico superaram os 6,5 bilhões de litros em 2023. Marcas como Heineken e Ambev têm apostado cada vez mais nas versões sem álcool, acompanhando o novo ritmo do consumidor. A Heineken 0.0, por exemplo, já é a cerveja sem álcool mais vendida no Brasil, que se tornou seu principal mercado mundial.

A preferência por produtos com menos álcool, menos calorias e ingredientes mais leves mostra que o desejo não é eliminar o consumo, mas torná-lo mais consciente e equilibrado.


Coquetelaria em transformação

Neste contexto, a coquetelaria também passa por uma fase de reinvenção. Bares e restaurantes estão atualizando seus cardápios com opções como mocktails (drinks sem álcool), versões com baixo teor alcoólico e combinações que exploram ingredientes naturais, fermentados e até regionais.

Infusões botânicas, kombuchas, shrubs e especiarias estão no centro de receitas sofisticadas que mantêm o ritual do brinde — mas com leveza, criatividade e intenção. Algumas casas já apostam em programações diurnas, drinks sem álcool como carro-chefe e até festas com “open de mocktails”.

A mudança no comportamento dos consumidores é uma constante; afinal, como seres humanos, estamos sempre nos transformando, e o mundo acompanha essa evolução. Quem está por trás da criação de produtos e experiências é instigado a inovar para agradar o paladar desse novo perfil de consumidor e, além disso, surpreendê-lo. Seguimos em movimento, curiosos para as criações que ainda estão por vir.


*Gallup: uma empresa de pesquisa de opinião dos Estados Unidos. 

* Euromonitor International é uma empresa que pesquisa mercados globais e fornece análises de inteligência estratégica sobre setores, empresas, economias e consumidores do mundo todo.

 
 
 

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