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O glamour acabou: a escassez de mão de obra se torna o maior desafio do food service em SC

Por Julia Xavier


Em Santa Catarina, a dificuldade em manter equipes estáveis tem se consolidado como um desafio recorrente no setor de alimentação fora do lar. Surpreendentemente, enquanto o estado ocupa o segundo lugar entre as menores taxas de desemprego do Brasil (G1,2025), também lidera o índice nacional de rotatividade no setor de food service — que abrange restaurantes, lanchonetes, serviços de catering e qualquer estabelecimento que forneça alimentos e bebidas para consumo fora de casa. Em 2024, a taxa de rotatividade alcançou 95,3%, a mais alta do país (Monitor Mercantil, 2024).

Imagem: (Substack)
Imagem: (Substack)

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) tem destacado, ao longo dos anos, que a escassez de mão de obra qualificada é um dos maiores obstáculos ao desempenho de estabelecimentos. Em uma pesquisa realizada em 2023, 79,5% dos empresários catarinenses alegaram a falta de profissionais qualificados como um dos maiores desafios para o bom funcionamento de seus negócios, especialmente durante a alta temporada de verão (ND Mais, 2023).

Esse cenário não é exclusivo de Santa Catarina. Em todo o Brasil, 90% dos empreendedores do setor afirmam enfrentar dificuldades significativas para contratar, impulsionadas pela baixa procura por vagas, condições de trabalho pouco atrativas, e a migração de trabalhadores para outros segmentos (FoodBiz Brasil, 2025).

Mesmo com a média salarial atingindo R$2.200 em março de 2025, o maior valor já registrado, os desafios persistem (FoodBiz Brasil, 2025). Mesmo a remuneração mais competitiva não tem sido suficiente para manter trabalhadores em um ambiente marcado por pressão excessiva, jornadas exaustivas e a falta de perspectivas de crescimento profissional. Falhas de gestão e liderança também têm comprometido o desempenho das equipes, dificultando a construção de vínculos duradouros entre os colaboradores e os estabelecimentos (Food Connection, 2024).

Além dos obstáculos operacionais, o perfil dos profissionais ingressando no mercado de trabalho também está mudando. A geração Z, que deve representar 27% da força de trabalho global até o fim de 2025 (Zurich Insurance), e estes jovens já deixam clara sua preferência por ambientes com propósito, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, e valores bem definidos. Segundo  pesquisa da Deloitte - empresa de referência mundial em auditoria e consultoria - , 86% desses jovens consideram essencial ter um senso de propósito no trabalho, e 49% deles deixariam o emprego em até dois anos se não o encontrassem (Forbes, 2025). 

Imagem: (Getty Images)
Imagem: (Getty Images)

Em setores como o de food service, esse desalinhamento entre o que o setor oferece e o que os jovens profissionais buscam, ajuda a explicar a dificuldade em atrair e reter talentos.

No primeiro semestre de 2024, a média de rotatividade no Brasil para restaurantes e estabelecimentos de alimentação fora do lar atingiu 74,3%, mais que o dobro da média no setor de serviços em geral (Abrasel, 2024).Esses dados revelam um desafio estrutural que não se resolve com ajustes pontuais, mas exige uma reformulação dos modelos operacionais.

Medidas como a padronização de processos, a clareza nos fluxos de trabalho e a consolidação de uma cultura organizacional mais saudável são apontadas como alternativas para superar os obstáculos e aumentar a retenção de equipes (Food Connection, 2024). 

Célio Salles, franqueado da rede Bob’s e membro do conselho da Abrasel, adverte que o setor passa por um momento crítico, e defende que são necessários dois movimentos para enfrentar a crise: reagir às dificuldades e, ao mesmo tempo, adaptar-se às novas exigências do mercado. Para ele, a escassez de profissionais qualificados exige que as empresas desenvolvam habilidades que lhes permitam  lidar de forma mais eficiente com os desafios do dia a dia (Abrasel -Fórum B & R, 2024).

Diante de um cenário marcado por instabilidade nas equipes, mudança no perfil dos profissionais e pressão por desempenho, o food service catarinense enfrenta a necessidade de ajustes. A construção de ambientes de trabalho mais saudáveis, alinhados às novas dinâmicas do mercado, e a valorização contínua dos profissionais devem fazer parte da resposta ao atual desequilíbrio. É simples: sem gente, não tem serviço.!


 
 
 

1 Comment


Juliane
Jun 17

Parabéns!! Assunto muito importante! 👏👏👏👏👏👏👏👏👏

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